GLOBÁLIA

Um universo em expansão sob a troika de valores: Liberdade, Segurança e Prosperidade. Tudo no Dia de Camões

segunda-feira, junho 12, 2006

Enquadramento do romance - Globália - de J-C.Rufin




Globalia

Le roman de la « globalization » vue par Jean-Chirstophe Ruffin (500 pages, Gallimard, 2004).
Par Olivier le 6 mars 2004
Mise à jour le 10 septembre 2004.
J.C. Ruffin, Goncourt 2001 avec Rouge Brésil, change de registre et sort en ce début 2004 un roman qui connaît déjà un grand succès. Ce roman d’anticipation aux accents de Barjavel, au delà de l’histoire, offre une vision à venir des effets de la mondialisation et de la généralisation d’une démocratie unique, sorte de dictature de la majorité.
L’histoire :

Sur Terre, dans un futur pas si lointain, la très grande majorité des habitants s’est regroupée dans les grandes métropoles mondiales, protégées de la pollution et des aléas climatiques par des dômes de verre et d’acier. Cet archipel urbain constitue à l’échelle planétaire Globalia, un système social, politique et économique unique assurant liberté, sécurité et bonheur aux habitants. Le meilleur des mondes possibles apparemment...

Au-delà de ces dômes existent les non-zones, territoires rendus à la nature et peuplés de quelques tribus prétendument hostile et revenues à un mode de vie sauvage. Les Globaliens, devenus quasi immortels (ce qui impose un contrôle strict des naissances) semblent se satisfaire de leur monde artificiel mais il en va différemment pour Baïkal, jeune hommes aux idées plus larges que ses concitoyens. Il rêve de fuir ce paradis contrôlé pour aller découvrir les non-zones, en entrainant son amie Kate. La première tentative échoue mais son cas intéresse un membre de l’élite politique globalienne qui se décide à lui ouvrir les portes du monde extérieur pour d’obscures raisons... que va découvrir Baïkal ? Est-il le simple pion d’un jeu politicien ?

D’une lecture aisée, dans un style rappelant Barjavel, ce roman de 500 pages m’a tellement captivé que je l’ai lu en très peu de temps. Outre l’histoire en elle-même, rondement menée, l’auteur pointe au cours du récit de nombreuses références à l’évolution de nos sociétés. Ces références se transforment vite en questionnements pour le lecteur qui perçoit aisément les dérives actuelles mises en avant par l’auteur. J’en citerai seulement quelques unes, parmi les plus visibles :


- L’avenir de la démocratie en lien avec l’acculturation de la société,
- L’obsession sécuritaire allant jusqu’à créer de fausses menaces pour mieux souder les Globaliens,
- Le (non)traitement des problèmes environnementaux avec la création de mondes humains clos et le rejet des pollutions dans les non-zones,
- Les difficiles relations intergénérationnelles dans un monde où l’espérance de vie est prolongée à l’infini grâce à la médecine et où les naissances doivent donc être limitées. Les jeunes sont ainsi devenus très minoritaires et mal acceptés,
enfin la dérive consummériste
.

Filo-terrorismo



O meu maior sonho é explodir-me, segundo as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa. Tal remete para a implosão em Leganés, periferia de Madrid, e recoloca o integrismo islâmico no centro da análise fazendo de Espanha o paiol da Europa. Cercados pela polícia, os terroristas não hesitaram em auto-imolar-se numa vivenda de 4 andares.

Porquê? agressividade grupal pela ocupação do Médio Oriente pelos EUA?; ausência de modernização?; anti-judaísmo? pobreza e dependência generalizada? Tudo conduz ao ressentimento dos muçulmanos e do mundo árabe que utilizam a vingança para resgatar a honra. Um árabe prefere morrer em dignidade a viver na humilhação e vergonha. E o que se passa neste momento é que nunca a vergonha foi tão grande.

As crianças não querem ser médicos ou professores, querem ser mártires e matar os israelitas (e o Ocidente). Numa parede em Gaza lê-se: “Se eles têm a bomba atómica, nós temos a bomba humana”. Será que haverá uma filosofia do martírio por amor ao Céu e ao Paraíso (sem noiva)? Ou será que este filo-terrorismo espelha o niilismo de quem quer ser o coveiro do Ocidente? Dum lado estão séculos de razão, de cristianismo, de Platão, Kant e Hegel; do outro estão os sentidos que nunca mentem e mostram o real, o ser e a mudança. Logo, a mentira, segundo os integristas, está na razão e nas suas abstracções com que distorcem o real.

Daí o recurso ao niilismo como combate à miséria intelectual do Ocidente rico, negando os seus valores. A chantagem da subsidiária terrorista para a Europa traduz uma nova leitura dos valores da existência entre duas civilizações: o Cristo e o Anti-Cristo. Desconheço se a Al Qaeda (AQ) leu Nietzsche, mas o ódio e a violência praticados são tentativas de remeter o Ocidente para a noção de pecado e culpa por uma degenerescência psíquica e fisiológica ligadas ao cristianismo.

Cada acto de martírio é uma Vontade de Poder dos fracos na luta contra a prepotência do Ocidente: infligindo dor sobre o prazer, caminhando do niilismo passivo (espectáculo ignóbil do mundo) para o niilismo activo (revolta destruidora) dos que não se resignam à assistir às ruínas dos seus antigos ideais: o califado universal.

Daí a conversão do mundo numa favela incendiária pelo festim terrorista, sua última chance de matarem o (outro) Deus. Arafat preferia meter uma bala na cabeça a entregar-se. E o lema é: eu mato, logo existo. Fórmula que a AQ globalizou, talvez inspirado por Zaratustra. Pobre do Omar Bakri ante Nietzche.
Estes actos, ainda recentes e frescos na nossa memória, deveriam acautelar as multidões em fúria e completamente alienadas que hoje fazem do mundial de futebol o novo ópio do povo. Os serviços de intelligence - cá do burgo são o que são (até o ex-salarazista Veiga Simão/ministro da Defesa mandava a lista dos agentes de informações para o jornal Independente, como se dum recorte duma notícia de culinária se tratasse... tamanha a incompetência senil da brigada do reumático que nos desgovernou) - os da Europa, apesar de tudo, ainda são um pouco menos falíveis, mas caldos de galinhas nunca fizeram mal a ninguém. Afinal, como diz ali em baixo Rufin, autor de Globália, a Democracia também tem os seus perigos, e hoje mais do que nunca...

Globália - entrevista com Jean-Christophe Rufin



Globália o tal inimigo a abater, dado que parece ser uma construção voltada contra os homens. Um edifício que não obstante se alicerçar na Liberdade acaba por a esmagar. Por isso, não sabemos bem o que é a Globália... Se um monstro político, económico e social dos novos tempos (?); se uma escapatória para a libertação... Portanto, se não sabes, pergunta; se não te respondem, procura; se não encontrares, inventa; verás que descobres...


Como nasceu esta fábula social?

A intenção era a de, um pouco à semelhança de George Orwell, escrever sobre que género de ameaça nos está destinada. O mundo de Orwell era o do estalinismo do pós- -guerra e foi a partir daí que ele ficcionou o futuro em 1984 [escrito em 1949]. Nós vivemos uma situação diferente, numa sociedade onde a liberdade está fixada como princípio fundamental, mas onde essa liberdade pode provocar uma deriva. Por outro lado, interessava-me ver em que medida a técnica do romance histórico, que utilizei em livros sobre o passado, podia ser aplicada no romance do futuro. Há uma intenção filosófica e política e uma intenção formal: fazer uma transposição do romance histórico para um romance sobre o futuro.

Falou na deriva por vezes associada à liberdade. A alienação pode estar para a democracia como a interdição está para outros regimes? É um dos seus paradoxos?

Sim. Em Globália todos os dias há uma festa. É um modo de desviar a atenção, a agressividade e o interesse para coisas que não têm importância. Da mesma maneira há um desviar de atenção das causas do medo. O resultado é um mundo de alienados.

A Globália fica num espaço reconhecível, num tempo determinado, mas que não corresponde ao nosso calendário. Este ano 27 é num tempo muito distante do nosso?

Este não é um livro de ficção científica, sobre um futuro distante. As personagens não têm orelhas verdes. Não queria que os seres humanos se transformassem. Queria apenas pôr uma lupa sobre o presente para aumentar uma série de coisas. Levou a uma fábula social sobre um futuro próximo, que é já ali. É muito difícil a ideia de romance político por antecipação. A começar pelo público, que se afasta ante a hipótese de ser ficção científica.

Toca preocupações actuais: baixa taxa de natalidade, medo de envelhecer, de morrer. Há muitos medos.

Neste momento, em França, o protesto dos jovens contra o contrato de primeiro emprego é a expressão desse medo. Numa sociedade em que se apregoa os valores da juventude e da vida longa, os verdadeiros jovens, não têm lugar. Não podem entrar. Os jovens na Globália têm 60 anos. É a contradição entre os vários tipos de direitos. O direito a uma vida longa, activa, entra em contradição com o direito de um jovem ao seu lugar na sociedade.

O seu alvo é a democracia?

Não é uma crítica de princípio à democracia. Não sou contra a democracia, que isso fique claro. Mas quero falar da sua complexidade, que há coisas muito perigosas e é preciso a mesma vigilância em relação à democracia do que em relação a qualquer outro regime político. Ela também pode ser perigosa. Estava a escrever o livro no momento em que os americanos se preparavam para intervir no Iraque e, em nome da democracia, disseram muitas falsidades. A democracia por si só não nos defende dos excessos de poder. Também tem os seus perigos.

Enquanto escritor, ficciona a realidade, como político intervém na realidade...

Não me vejo a fazer as duas ao mesmo tempo. Uso a realidade como uma espécie de bateria, de carga.De percepção, de retratos, de paisagens, de ideias. Depois, passo à escrita.

Como vê a escrita: uma forma inovadora de contar uma história?

Sou médico e sentia-me um passageiro clandestino na literatura. Comecei pelos ensaios porque me parecia menos comprometedor. Também os via como uma forma literária. Quando os escrevia, pensava em Tocqueville, em Maquiavel. Agora, o ensaio são só as ideias. Achava o romance mais ambíguo, rico. Quando me iniciei no romance, a grande surpresa foi o prazer que senti. Adoro contar histórias e aplico-me a encontrar uma forma de as escrever. Como vê, falo bastante, disperso-me, disparo em todos os sentidos e tenho necessidade de me disciplinar de modo a concentrar-me no essencial.

Disse que quando escrevia ensaios políticos pensava em Tocqueville e Maquiavel. E quando escreve romance, pensa em quem?

Situo-me na tradição do romance clássico francês. Dumas, Flaubert, Balzac... Hoje há uma espécie de snobismo em França em que o romancista quer inovar todos os dias, rompendo com a tradição. Eu não quero romper com a tradição. Quero contar uma história de
forma simples - espero que com qualidade -, mas não procuro revolucionar a forma do romance.

Neste tempo futuro em que se situa a Globália, haverá espaço para o romance?

Há um lugar central. A defesa da leitura e em particular da ficção é qualquer coisa de essencial, porque é o único verdadeiro acesso individual à expressão. A única liberdade directa é escrever. A possibilidade de escrever, de escrever histórias, é verdadeiramente uma liberdade individual. O cinema já não é assim. Depende do meio, o controlo político, social. O livro é o último meio revolucionário ao alcance de todos.

"A democracia também pode ser muito perigosa"

Em português com sotaque do Brasil, o escritor francês confessou sentir-se um aluno em vésperas das férias grandes. Entre as Maurícias e Lisboa, com uma paragem em Paris, chega ao fim de um mês de viagens de avião. É tempo de voltar ao novo romance, cuja escrita foi interrompida há três anos, quando assumiu a presidência da ONG Action Contre la Faim

Receios: com a Segurança não se brinca

Há dias conseguiram matar Al Zarqawi - um importante operacional do terrorismo a operar no Iraque e uma peça crucial das operações da rede de Ossama bin Laden. Desde então o preço do petróleo desceu um pouco. Hoje ou amanhã, porque este blog se preocupa com a Segurança das nações, tenho receio que a CIA avente a possibilidade de bin laden - o mentor dos ataques às Torres do World Trade Center en NY em 2001 - se encontrar em Fátima, preso num galho duma azinheira - tendo a sua aparição sido testemunhada por três pequenos sujeitos: durão barroso, actual manga-de-alpaca em Bruxelas; César das neves - conhecido economista da Católica sempre disposto a defender o indefensável em nome dos seus dogmas; e um terceiro vidente - que passou a última década a snifar folha de coca e cola de sapateiro - que pode ser... Pode ser... Fica em narrativa aberta.
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sábado, junho 10, 2006

Arquitecture is frozen music


















Bem vindos à Globália: razão de ser


Bem vindo à Globália: razão de ser


GLOBÁLIA - é uma fábula visionária sobre a globalização da autoria de Jean-Christophe Rufin. O autor traça um retrato do presente através da sua projecção no futuro, e é isso que faz de Globália uma história de aventuras que continua a tradição de grandes romances de antecipação tipo Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley ou de 1984 de George Orwell. Mas sem o seu fulgor e mestria, é claro. Nessa linha, aproveitámos o título e nada melhor do que o 10 de Junho para, sob a égide do grande Luís Vaz de Camões - promover aqui textos, reflexões, críticas e outros citrinos relacionados com valores que nos são caros: Liberdade, Segurança e Prosperidade. Porventura, os três valores mais importantes da contemporaneidade e, também, os mais difíceis de realizar no interior das sociedades, já para não falar no sistema internacional, onde nunca reinou lei nem roque.
Aqui, como no romance, todos somos do mesmo Estado: a Globália; todos falamos a mesma língua, o anglo-global e só a limitação da realização daquela troika de valores (Liberdade, Segurança e Prosperidade) pode restringir a nossa actuação. Este é um espaço do "fora" e do "dentro", da razão e da emoção, a recortar os caminhos da reflexão e da intervenção crítica e cívica na blogosfera. Mais um espaço transversal - sem fronteiras...